Ele não percebia o corvo que ali se resumia. Os olhos fixos perscrutavam a alma do abatido e seu avançar faminto poderia aquela vida ceifar. Olhos sombrios que mergulhavam à alma do futuro falecido, faiscavam em sadismo com todo o ocorrido e a voz gélida mortífera murmurou.

– Não compreendeste Pierrot? Não compreendeste o egoísmo instaurado em seu desejo sofrido? Desejas que um dos três sangues seja vertido, pois tua alma sabe no que realmente fomos envolvidos. Vives um amor doentio, pois satisfaz a dama em seus desejos repentinos, mas nela reside a fúria da natureza, a mesma fúria que arrancara meu coração.

Flamejantes olhos erguiam-se incontidos do desejo mórbido de extirpar aquele sorriso. Sim! O rufião, em agourenta forma, gralhava-lhe aos ouvidos de forma vitoriosa, imputando à Colombina a imagem pavorosa.

– Ceifadora de vidas, de sonhos e esperanças, eis que bela donzela carrega com ela pesados grilhões. E tu em patético orgulho serias capaz em heróico ato, ceifar tua vida em injusto ato.

O corpo do amante que tanto fora apunhalado às palavras de sua amada Colombina, deleitava o rufião em tamanha dor do olhar que o entregava sem pudor.

– Ah! Meu tolo Pierrot, tu encontrarás alguma paz… Mas tua paz durará por pouco tempo e amaldiçoarás esta noite maldita ao que clamaste por um dos três sangues que devias ter escolhido.

Não mais sabia o Pierrot se aquelas palavras confortariam tua alma ou se um dia arrepender-se-ia de ter clamado pela traiçoeira noite que banqueteava os desamores daquele trio.