Por onde quer que andassem, lá se encontrava o rufião. Giros e sorrisos enchiam-lhe de vida, roubando o rubor das faces incautas das donzelas que o rodeavam. Um tigre, uma sombra, garras e nada mais. Pierrot enchia-lhe o coração de amargor, pois Colombina era flagrada espreitando o errante. Maldito fosse o espírito do vento e da liberdade, pois roubava de sua amada, pensamentos e outras coisas mais. Harlequin gargalhava com gosto prazenteiro, puxando as moças de modo fagueiro, juras eram feitas aos pés do rufião que as dispensava sem menor sofreguidão.
– Harlequin!
Um dia escutaram e perante o triângulo uma moça se matara. Arrancara de seu corpo a vida jovial, em desespero infundado do amor não recebido. Colombina estremecera diante de tal ato e Pierrot mais uma vez ficara pasmado. Com calma Harlequin se aproximara da vida ceifada, abraçando o corpo da fria donzela; de seus olhos lágrimas escaparam em angústia e dor.
– Vê? O amor do rufião é volúvel, amada donzela!
Colombina sentia repulsa diante de tais palavras e Harlequin erguia o rosto, gritando em profunda dor.
– Quão forte eu queria que fosse teu amor. Quão tola foste em amar-me.
Harlequin abaixava o rosto e acariciava os traços de quem se entregara de forma errada e com trêmulos dedos ele ainda recitava.
– Não compreendeste em minhas palavras que meu amor jamais te pertencera? Não compreendeste que minha liberdade em amar já não mais se encontra nesse peito oco de sentimentos. Quão tola foste em amar-me.
Abraçava o corpo fortemente e seus olhos faiscavam dormentes. Harlequin mais uma vez olhava os profundos verdes que ali os observava.
Inveja… Foi o que a matara. – Aqueles olhos sorriam em pura devassidão.