Desesperado pedido gritado em cruel desatino, qual lança perfurava-lhe o sofrer, prostrando-o ao chão sem compreender. Não seria ela, sua doce Colombina, aquela que um dia lhe sorrira, envolvendo-o em palavras angelicais? Não seria ela sua dama, que o envolvera em desejos e sonhos, de juras declaradas com o sempre que agora se rompia?
Ó cruel destino que ali o prendia com grilhões pesados em seus músculos machucados. Vivera a ilusão da qual não queria acordar, que lhe sacudissem o corpo com um violento despertar. Não! Não! Aquela débil imagem, tão fraca e tresloucada, não poderia ser a que um dia passara a imagem da mais forte das vadias. Sim! Sim! Vadia ela se tornara, em seu pranto miserável, em seus braços pútridos que envolviam aquele corvo desgraçado. Ave de mau agouro, quantas donzelas mais surrupiarás dos corações alquebrados. Tuas cores não existem na vida daqueles que persistem. Saia! Vá-te embora de minha vista, leva contigo esta carniça. Esta sombra que não me pertence mais.
Em frio semblante a serenidade invadira-lhe o olhar, via a imagem borrada, alquebrada daquela que um dia fora a mais bela das belas diante de seu olhar. Sorria de modo fraco, sentindo as dores do mal amado, sabia como encerrar o sofrimento que os envolvia cada vez mais. Ela, tão frágil Colombina, sofria com a liberdade, clamando em seu olhar por um pouco mais de insanidade. Fechara os olhos no entristecer do momento, escutando a voz que lhe pertencia, cravando os dedos à suave e tenra carne. Gritos preenchiam a noite em dor e lascívia, em horrores e prazeres, ao carregar embora seu negro coração.
Prantos derramados no vazio que aumentava, enquanto canções eram cantadas no rodopiar de um rufião.
– Alegria! Alegria! Este rufião irradia! Sou o vento do norte, sou a alegria, sou as cores que já tiveste um dia, mas se achas que minha cor seja maldita, saiba que até mesmo dela tu necessitas.
Risos ainda podiam ser ouvidos, com o romper da escuridão. E não muito distante da varanda ela se encontrava com o olhar perdido, desolada, desconsolada e nada mais.
– O Rufião jamais te pertencerá, minha doce Colombina. Assim como jamais serás minha como pertenceste a ele… Um dia…