Estou me tornando um monstro.
Percebo isso quando o estrago já está feito e sei que me torno um monstro pior nas vãs tentativas em achar um meio de me desculpar com todas as pessoas magoadas pelo meu jeito traiçoeiro de apunhalá-las quando elas mais esperam um apoio de minha parte.
Não as culpo…
Sei que fico grosseira, vocifero palavras com escárnio, magoo e depois me sinto um traste.
As pessoas se preocupam comigo e eu apenas dou-lhes de presente um rosnar de um cachorro acoado, selvagem, ingrato…
No fim vejo o estrago, não apenas por meus olhos, mas pelos olhos de todos que mostram o mundo cinzento que joguei em suas caras.
Então relembro que tenho poucos amigos e suspiro ao relembrar que até gostaria de ter mais amigos, mas não os tenho.
Não os tenho pelo fato de que sou realmente um monstro. Um monstro que mostra seu pior lado quando tem milhões de preocupações na cabeça e não deixa ninguém espiar o que realmente me incomoda.
Acabo descontando em quem não merece. Acabo arrancando do âmago das pessoas qualquer sentimento alegre que elas possam associar com alguém que elas desejam admirar.
Na verdade não estou me tornando um monstro. Eu já sou esse monstro que olha desconfiado, envenena os sentimentos belos que são despertados, que vocifera o pior sentimento evocado e que se recolhe na escuridão de seus estragos.
Não sou digna de pena, apenas vivencio aquilo que encontro em minha mente… Uma pessoa que escuta risadinhas de escarnio, de dedos apontados e de desconfiança…
Eterna desconfiança.