O tempo passa de forma estranha a cada findar de ano e as comemorações pagãs e cristãs misturam-se quando menos esperamos. São misturas interessantes, porém sombrias e acabo me divertindo com o que é escrito em minhas linhas. As pessoas esperam finais felizes e contos carinhosos neste livro e chegam a pensar que teremos casos de amor entre as personagens que aqui desfilam, mas o real e o fictício não são irmãos…
Em tempos antigos eu dizia que não era igual ao meu irmão mais velho e que nestes prados não deviam esperar finais felizes. Uma prova disso foi o que viveu a minha Rainha, mas agora não há tempo para tudo explicar. As Moiras se encontram lá, torturando a mente de um andarilho perdido que ainda possuía esperanças de que houvesse um pouco de luz no coração de minha majestade, mas todos que aqui habitam sabem o quanto isso se tornou impossível…
— Hi-hi-hi-hi-hi! Seu coração está torturado?
— Huumm! Na verdade está decepcionado!
— Na verdade! Ele está confuso minhas queridas irmãs!
As moiras circundavam o andarilho que se encontravam em suas garras e sentiam o aroma de um coração despedaçado. Dúvidas, questionamentos e incertezas eram seus alimentos. Elas se deliciavam à medida que isso o estraçalhava e sabiam que lá no alto, mais alguém esperava pelos pedaços que se fragmentavam.
— Achavas que o Arcanjo era um raio de esperança?
— Achavas que a Rainha iria recompensá-lo?
— Achavas que Deus iria resgatá-lo?
Elas riam cada vez mais alto com o fincar de suas garras e o Arcanjo lançando suas sombras aguardava aquela alma.
— Não há espaço para almas inocentes…
— Não há espaço para amor…
— Não há espaço para nada…
Sons de cascos tornam-se presentes e à linha dos penhascos que abrigavam as Moiras com sua vítima, surgia outra entidade inesperada…
— O Abismo trouxe-nos novos amigos… – deliciou-se a mais nova, puxando os cabelos do andarilho para que ele visse um cavaleiro em armadura negra e elmo com chifres.
— Nenhum deles com uma alma que nem a sua… – a mulher fincou mais fundo as garras ao peito do homem, arrancando-lhe um grito que o obrigava a olhar o arcanjo com aspecto sombrio.
Um som alto corta o abismo, um som conhecido pelo andarilho… Era um silvo nobre e portentoso, mas ao mesmo tempo ardiloso…
— Más notícias meu querido… – murmura ardilosa a senhora – o Falcão à casa torna…
O silvo do Falcão realmente desviou nossa atenção. O Corvo parecia interessado, suas plumas negras logo se alvoroçaram. O Gato pareceu sentir um prazer imenso, enquanto a menina-moça suspirou com certo receio. Já a Rainha…
— Os ventos de Arcádia trouxeram novos ares.
Sim, ela sorria, com o coração batendo forte e seu olhar voltado para a moça-menina.
— Os elfos-negros retornaram…
— Sim, minha amada Rainha. Tão cativantes como sempre o foram.