Minha Rainha permanecia com aquele sorriso aos lábios. Um sorriso de quem espreita e traiçoeiramente espera por sua presa. Neste reino sombrio e cheio de espinhos, minhas páginas não se tornam tão verdejantes quanto antes. São negras em sua obscuridão e verdes com o respiro de quem ainda sobrevive. Não tivera a mesma sorte meu irmão. Talvez por carregar sonhos doces e caramelados, sonhos infantis e fracos, fizeram que seu pulsar dourado findasse. Ah! Mas sei que ele ainda respira, mesmo que de modo fraco, trazendo a Rainha seus pesares, suas saudades por sonhos ilusórios; o desejo pelos contos de fadas que são contadas no singelo sorrir de sonhos que estão por vir. Sei que minha Rainha, respira pesadamente ao olhar para aquela capa em tons outonais, murmurando em silencio aos fantasmas que lá assombram os sentimentos joviais. Não posso deixar de sorrir em minhas páginas, pois sei que o *Tyr Quentalë fará um último louvor às ancestrais glórias; quando Fada tornou-se Pandora, e de uma Pandora tornou-se a melancolia de um anjo sempre a buscar. Poderia passar horas a contar sobre fadas, anjos, rainhas e muito mais, mas por hora são minhas páginas que tem muito mais a contar.

Os ventos soberanos mostram sua força. Forçam passagem pelos azevinhos, espinhos e os seres que aqui habitam. Cravam suas garras à minha pele, enquanto observo as sombras murmurantes. Cavaleiro errante e cavalo avançam, buscando as trilhas ao centro deste labirinto. Sim! Esta floresta possui sua vida, circunda mata e até mesmo fascina. Ainda possuo o líquido em minhas mãos, mas meu coração ainda se encontra devorado pela escuridão.

— Nada há neste peito, nobre cavaleiro, Arrisca-te em tentar desvendar este reino. — Murmuro sibilante, como a floresta a circundá-lo. Espinhos avançam ao encontro do bardo, do tolo, daquele que um dia tivera olhos cor de ouro.

— Talvez compadeças de meu sofrer, por talvez sofrer de meu mesmo sofrer. O que desejas encontrar?

Sorriam bravios os ventos frios, pois a morte está a rondar. Palavras bonitas arrancam-me sorrisos, mas nada mais irão arrancar. Talvez mais palavras, mas nada mais há de encontrar.

Desafios não mais que meros desafios de oneiromantes ou bardos a cantar. Bardos que cantam suas decadentes histórias. Ao bramir baixo e olhos a luzir.
Luzem vermelhos na cor do sangue, instigando um breve sufocar. Garras que penetram a tenra carne, rosnando rouco, rosnando baixo.

— Não há vitórias por aqui. Não mais haverá… Não busque por sentimentos, apenas desafios irás encontrar. Não há charadas a se decifrar. Nem mesmo o consolo. Há apenas escuridão. Há apenas solidão. E apenas isso, irás encontrar…

Sorriu o corvo em seu reclinar, indo à busca do errante que está a me buscar. Em meu trono, espero pelo grito de que ele não vai parar.

— Eles jamais param, até me encontrarem…

Suspirei a ouvir aquelas palavras, pois minha Rainha estava mais do que certa. Muitos proclamam que são diferentes. Muitos lutam para provar. Mas no fim, encontram espinhos. E são nessas feridas que ela os vê declinarem.

 

* Tyr Quentalë é um antigo blog meu, que fez muitos cativos com os seus belos contos. Hoje é o projeto de um livro em fase de revisão.