Minha Rainha brinca com o tempo enquanto tudo parece mover-se na distopia do Destino. Parecia cruel sentir as garras das Moiras rasgando os sonhos incrédulos do andarilho, e inumanos vê-los ainda a buscarem a inquietude humana de ocupar o vazio de um coração. Eu sentia as linhas se agitarem furiosas em minhas páginas à medida que Kronos e Kairos rasgavam o tempo com suas garras, assim com as sentia parecerem ansiosas no aguardar da presença de Karonte em sua barca. Porém, eu sabia que Karonte possui várias formas, sendo algumas delas agradáveis e outras desagradáveis. Karonte poderia aparecer através das asas de um Arcanjo ou no corpo de um Cavaleiro Negro, pois a Morte sabe como alimentar falsas esperanças. O Falcão, o Corvo e o Gato provam isso em suas palavras, entretanto, para se dar conta disso, muitos o descobrem quando é tarde demais.
— Conte-nos, que bons ventos Arcádia nos sopra meu caro Falcão dos Elfos Negros? — Gralhava o Corvo sedento por notícias.
O Falcão descansou suas asas e brevemente abaixou sua cabeça em respeito à Rainha de Arcádia.
— Creio que devias perguntar ao Gato, já que ele sabe mais do que aparenta, no que mantém suas falas enigmáticas aos que mergulham no Abismo. — Silva o Falcão, com certo desprezo — Os Elfos Negros à Arcádia retornam para avisar que suas andanças serão sazonais.
— E o Falcão reclama de minhas falas enigmáticas — ri o Gato de forma baixa.
A Rainha, porém, nada fala a respeito das alfinetadas do Gato, ela bem o sabia que as andanças seriam sazonais, antes do retornar do Falcão.
— Talvez… — se aventura a menina-moça que logo interrompe o pensamento.
— Não há talvez… — Murmura o Corvo, olhando fundo aos olhos da menina.
— O Abismo possui seus meios — murmura pensativa a Rainha, observando Karonte se aproximando de sua vítima.
O Gato observava a Rainha e sentia a preocupação da menina que mordia os lábios um pouco mais atrás.
— Oneiros o avisou, não é mesmo, meu estimado Gato? – A Rainha observava os fragmentos que se despedaçavam, cada qual aos seres que ali aguardavam.
O Gato sorria, tomando forma de um ser mais enigmático, fazendo o coração da menina-moça disparar em descompasso.
— Há tanto de ti na Rainha… — o Gato ronronava envolvendo a menina – Mas há tanto da Rainha que me envolve…
— Ah! Minha adorável Pandora, como foi interessante vê-la abrindo sua caixa aos olhos de um Rei Troll… — Os olhos do Gato enegreciam a medida que suas presas cresciam…
O Corvo esmiuçava os olhos, sabendo os motivos de o Gato estraçalhar a alma de Pandora, enquanto o Gato olhava o Andarilho que tinha sua alma estraçalhada pelas Moiras…
— Não há espaço… Para mais nada…
O Gato ria de maneira sombria, junto aos risos das Moiras que ali se entretinham.
A essência de Pandora voltava ao corpo da Rainha que sempre afrontou a alma dos mais fortes. Seria um fim às minhas linhas? Eu sabia que não, ao sentir as carícias em minhas linhas.
— Sempre será um descomeço… — Gralhou o Corvo…
— De um recomeço… — Silvou o Falcão…
— Que nunca terá um fim… — Ronronou o Gato…