Eis que meu querido Rei, mais uma vez traz o bestiário ao colo de minha Rainha e às vezes as trocas de olhares atiçam-me as páginas. Ah! Perigosos tomos que agitam minhas folhas. Penso às vezes se isso seria um desafio ou apenas o desejo de tentar-me. Então curvo minhas páginas meu digno rei e deixarei que os prados verdejantes adentrem o Palácio Elétrico mais uma vez.

Nada parecia satisfazê-la. Rei e Rainha não sabiam mais o que fazer. Buscavam em reinos distantes algo que alegrasse aqueles olhos tão distantes. Viajavam e deitavam aos pés da princesa tudo que achavam importante. Degustava uma oferenda aqui, outra ali, mas nada despertava o brilho naqueles olhos e o Rei amargurado sua vida deixou. Suspirando exasperada e sem saber que outra arma usava, a Rainha deu-lhe a liberdade, mas quantas vezes quase enfartou. A Princesa sorriu com os cantos dos lábios, decidida que seria da forma que desejava, mudou seu vestido de seda por roupas aventureiras. Incessante em sua busca logo fecha os punhos às roupas dos príncipes e com os olhos quase em chamas e a voz sibilante perguntava aos príncipes tal qual alguém perguntou um dia ao espelho. Claro a pergunta não era sobre sua beleza, mas amedrontados ficavam e sua busca não terminava. Pobres coitados que caiam em suas torturas e que achavam que um tornado havia desolado seus reinos. Outras princesas riram, achando-a uma selvagem sem classe, mas havia uma que inebriada em bailes, ousou muito mais que princesinhas de contos de fadas ousariam. Afinal, isso não é só um conto de fadas. Ah! O sabor dos lábios, deveras marcantes, deram certeza a nossa aventureira, que um dia fora uma princesa, que aquela digna de sua confiança também buscava muito mais do que os Reis e Rainhas desejavam às suas filhas.

Juntas em suas empreitadas, partiram para lados diferentes, por vezes conversando sobre seus achados. A segunda princesa havia arrumado um sapo, na verdade vários sapos por ela foram encontrados, já a primeira, aparecia cada vez mais ferida e com o olhar cada vez mais cansado.

– Não hei de desistir!
Murmurara a princesa aventureira. Meio mundo ela já havia rodado e a outra metade do mundo a esperava e um dia, um tanto quanto ferida de suas batalhas, onde os olhos dos demais pareciam não mais reconhecê-la. Sentiu uma mão pesada a segurando. Não era um príncipe encantado. Mas o sorriso despontara aos lábios e em meio ao beijo e àquele abraço, o murmurar veio fraco, mas cheio de uma certeza.

– Meu coração a ti pertence. Sou sua presa, rainha…
E envolta naqueles braços que firmavam seu corpo, fechando os dedos em seus cabelos, o sorriso encerra a frase mais certa.

– E Serva.