O murmurar do Falcão trazia um enorme pesar e pude observar o Abismo crescendo aos olhos de minha Rainha. Por um momento seu suspiro foi inaudível, mas sabíamos que os elfos negros fariam falta. O Gato, por sua vez, esmiuçava seus olhos ao perceber as atenções voltadas ao mensageiro ferido, mas sentia em seus pêlos algo mais por vir. Não tardava para que todos percebessem o aproximar das palavras tão poderosas…

— Amo a Rainha…
— Malévola…
— Aceita…

O Cavaleiro perdido poderia escutar sua primeira frase acompanhada de duas mais. Vozes que ecoavam das paredes do Abismo que ainda se deleitava com a morte da pobre montaria. O Gato, por sua vez, aumentava o sorriso malicioso em seus lábios, dando voltas no próprio corpo, e a tristeza rondava o peregrino que lhe acompanhava.

— Podes escutar isso? – Perguntou o Gato ardiloso, mantendo-se às sombras do labirinto e quão cruel era seu sorriso, pois não havia misericórdia nos acontecimentos vindouros.
— Podes sentir as vozes daqueles que se aproximam? – Finquei minhas garras ao chão, pois a história inacabada trazia ao Abismo outras almas ao labirinto.
— As respostas que desejas, lá no fundo se encontram inalteradas. Mas poderia estar eu mentindo, levando-te para outra encruzilhada. – Avanço deveras faminto, dos sonhos e das esperanças perdidas. Sim, ele ainda desejava, e com suas esperanças iludidas, atraía outros andarilhos.
— Deves correr meu caro. Pois enquanto queres respostas, a Rainha e o Abismo despertam paixão em almas mais sombrias, enquanto por outro lado os Reinos do Seanchaí convidam outros deslumbrados.

Estava claro que ele desejava mais respostas e que gostaria de saber mais sobre a guardiã e barda do tempo e das histórias contadas, fechei a saída do Abismo e apresentei um novo caminho.

— Deves deixar a minha companhia agora e buscar as Moiras que tecem os Destinos. Vá e não te demores. Deixai o passado de tua vida para trás. Caia mais fundo no Abismo e perca todas as esperanças que deixaste para trás. Mas não espere benevolência das Senhoras que tecem os fios de tua vida…

Estremeci ao escutar o Gato e o Corvo pareceu-me pensativo.

— Ele escolheu o Abismo minha senhora, teria sido ele sábio em tal escolha? – Sabia bem o que ela me responderia, mas enaltece-me as páginas ao perceber aquele sereno sorriso.
— O Gato sabe que não foi uma boa escolha a do jovem rapaz, pois por conta da mesma curiosidade, o Gato teve seu pior destino.