Minha Rainha silenciara-se por um tempo, deleitando-se das aflições do andarilho que perdido se encontrava na floresta de espinhos. Elas maculavam a pele exposta, arracavam sangue quando ele menos esperava e ela afundada em seus pensamentos, via os tempos de festividades dos plebeus que ao longe comemoravam. Eram tempos vindouros, que mostravam um recomeço, mas à alma de minha Rainha ela indicava o silêncio funesto dos elfos negros. Cinzentos eles eram, mas agora tomavam a cor daquele reino e o corvo riu com as palavras largadas ao vento. Acompanhem-me e não se percam mais do que já se perderam…

Não pude deixar de rir ao ler os pensamentos do andarilho errante, achava-se uma presa perante minha presença, mas não mais era o meu momento de guiar a alma do cavaleiro andante e ao silvo agudo e fino minha negritude fora roubada por pequenos raios de esperança.

— Saia negrume sarcástico de minha presença, pois já satisfizeste o sadismo da Rainha. Leve contigo o ar pesado que carregas pois só trazes contigo as almas rancorosas e que clamam por vingança, o que não é o caso deste cavaleiro.

Ri, pois não tinha como não rir perante a arrogância do falcão que se aproximava. Guia dos andarilhos, olhos dos desavisados. Raio da esperança de caminhos que devem ser encontrados. Ergui minha cabeça, pois ambos éramos aves rapineiras. Carniceiras em nossos próprios modos e traiçoeiros em nossos próprios trejeitos.

— Diminuas tua arrogância, peregrino dos ventos. Os elfos negros nas sombras se esconderam. Saio, não por sua imponência, mas porque minha Rainha me dera outro serviço.

E assim o corvo saiu, deixando aos meus cuidados a alma atordoada do errante. Estava certa a desgraçada ave, sobre minhas ligações com os elfos negros e sobre os ventos, mas era chegado o momento de mostrar os portões que estavam trancafiados.

Voei baixo rodeando o cavaleiro, buscando o ombro sem proteção, pousei minhas garras sem cerimônia, arrancando o sangue tão desejado.

— Desejas realmente atravessar o portão? – perguntei ao cavaleiro em minha majestosa imponência – Pois agora conhecerás a melancolia que está por vir e se sentirdes solitário, não penses que sentiremos pena de ti.

O Falcão em sua graciosidade mostrava-se tão ferino quanto ao corvo que ao longe se afastava. Minha Rainha sentia o doce sabor do sangue às pontas dos dedos e seus olhos firmavam-se aos olhos do cavaleiro. Ele ainda não estava morto, assim como minhas páginas ainda mostravam vida…