Príncipes encantados existem? Sim, eles existem! Mas não da forma que as pessoas imaginam e não são encontrados em contos de fadas que possuem sorrisos e felizes para sempre! Creio que vocês já devem ter lido isso em minhas linhas, assim como devem se recordar o tanto que alertei que eu não possuía final feliz, afinal, minhas linhas não possuem contos de fadas americanos. Em nosso último encontro minha Rainha se mantinha observadora e silenciosa e os três representantes da Rainha se encontravam arredios com os rumos que Arcádia tomou, porém, você que perscruta as minhas linhas deve estar se perguntando por que citei príncipes encantados e eis os motivos a seguir…

— Escutaram isso? – crocitou o Corvo erguendo a cabeça como se uma leve brisa acariciasse suas negras penas.

O Gato se esticou depois do longo sono que o dominou, ronronando letargicamente: — Refere-se ao som de lágrimas e do bater de um coração pesado?

— Não… Não me pareceu ser esse som… – O Corvo espreitava a negritude do vazio.

— Devo concordar com a ave de mau agouro – suspirou o Falcão – o som lembra-me exatamente um suspiro e o som de espelhos quebrando.

— Uma quase aceitação… – o Corvo arriscou avançar alguns passos até os limites do vazio.

— Sim! Há esse… – Repentinamente o Gato se calou. Seus olhos espreitavam as penas do Corvo e o Falcão resolveu olhar o que fez o Gato se silenciar.

— NÃO! – o Falcão ergueu voo para alcançar o Corvo com suas garras.

— NÃO, FALCÃO!!! ESPERE!!! – o Gato saltou para agarrar o Falcão antes que ele atingisse o Corvo.

— Solte-me Felino! Antes que seja tarde! – Implorava o Falcão, carregando ódio em seu coração!

— Aquiete-se sua ave de rapina… Se interferirmos, o Vazio em que nos encontramos se manterá para sempre!

O Corvo parecia alheio à briga entre o Gato e o Falcão. Ele sentia o Vazio o envolver e acariciar suas penas. Seus olhos se fechavam, enquanto aquele leve arranhar parecia desenhar suas formas e atiçar seus anseios de liberdade e aprisionamento à única pessoa que ele amava.

— Príncipes encantados existem, mas não da forma que as pessoas imaginam e eles não são encontrados em contos de fadas que possuem sorrisos e felizes para sempre.

O Corvo escutava aquele sussurrar e se entregava àquelas carícias que confidenciavam uma nova história a qual ele desejava escutar.

— Eles se encontram na vida das pessoas que nos rodeiam, pois ambicionamos a alegria que as contagiam…

O Corvo aprumava as suas penas se deliciando com tudo aquilo.

— Somos incapazes de encontrar a nossa própria felicidade, pois nos preocupamos em arrancar a visão que nos permitiria tal emoção…

O Corvo sorria em sua alma por compreender a verdade daquelas palavras.

— Somos um, na ilusão e na realidade de uma mesma canção…

O Corvo abriu seus olhos e os esgueirou em direção ao Gato e ao Falcão.

— Estão prontos para uma nova história? – Crocitou o Corvo, tendo o Vazio incorporado às suas penas, deixando-o mais sombrio que a encarnação do escritor americano.

Príncipes encantados existem, mas não da forma que as pessoas imaginam. Posso afirmar que eles não são encontrados em contos de fadas que possuem sorrisos e felizes para sempre. Eles se encontram na vida das pessoas que nos rodeiam, pois ambicionamos a alegria que as contagiam… Mas isso, é uma história para outra hora…