Eram tempos ingratos quando isso me foi relatado e meus pensamentos estremecem ao relembrar dos fatos. Alertavam sobre os perigos e as coisas que ali encontraria, implorando-me para deixar tudo de lado. Meus olhos firmaram-se uma vez mais sobre o achado e por horas percorreram os escritos encontrados.

Um túmulo surgido do nada que a todos afastava excetuando as fúrias que o desafiavam. Com sede e fome insaciável avançaram sobre aquele achado. Respiraram, lamberam e seus corpos deitaram sobre ele, mas a ambição de seus desejos não estava ao alcance e por tempos infindáveis elas esperaram.

Meus dedos deslizavam naquelas ranhuras e minha pele arrepiava aos sentidos alertando-me que eu não estava só. O corpo reclinava e com grande esforço eu escutava o arranhar do tampo que girava junto aos sussurros sibilantes ao meu redor. O sol ainda a pino lançava sua luz à escuridão e ofegante eu notava o abismo escondido, clamando o meu nome em uma só voz.

Seus olhos brilhavam com o tampo girado, esticando suas linhas, tramando suas teias e logo elas avançaram como sombras sedentas buscando aquilo que há tempos ansiavam.
Seus corpos estremecem folgando suas linhas, ao encontrar apenas uma caixa vazia.

Profundo ele era em seu convite de morte e com um salto apoiei-me em uma plataforma. Meus olhos esmiuçaram e nem mesmo estando ao pináculo, meu ato parecia surtir efeito. Selei a tampa acima de minha cabeça e por um momento deixei a escuridão rodear. Fechei meus olhos esperando um tempo para perceber o que eu não conseguia enxergar.

Decepcionadas estavam com o que encontravam e logo suas linhas pensaram abandonar, mas eis que a tampa mais uma vez se fechava e seus corações voltaram a disparar. Correram e se aproximaram da caixa lacrada, deixando seus ouvidos lá repousarem. Fechavam seus olhos buscando escutar, o que desejavam lá dentro encontrar.

Meus olhos se abriam e a escuridão permanecia, e com um suspiro eu enfim percebia. Movi o tampo com muito esforço, sendo recebida com um sorriso ao rosto. O Sol ainda estava a pino e me recebia sorrindo, e fechando o tampo uma vez mais, sentei-me ao chão com certo desgosto.

Praguejaram e amaldiçoaram. Suas almas não acreditavam. A caixa se abriu e o nada ali jaz. Mais séculos elas viveriam, sentadas as três ao tampo e com suspiros lamuriavam as fúrias que nada conseguiram da bendita caixa.

Meus olhos se erguiam e um convidado sentou-se ao meu colo e com calma eu o acariciava. Meu olhar abaixou um pouco e o dele em mim repousava. Uma conversa silenciosa trocávamos, confidenciando segredos que apenas nós dois escutávamos. Um sorriso vitorioso surgiu aos meus lábios e a noite vindoura era a que esperávamos.

A noite crescia e a lua estava alta e sentiram o tampo mais uma vez se abrindo, seus olhos brilharam com tamanha satisfação ao ver o que a caixa continha em seu interior. Seus corações disparavam de tamanha alegria e então viram exaltadas o cuidado em que tudo se movia e a teias de suas linhas elas armaram, esperando o derradeiro desfecho que ali jazia.

Meus olhos brilharam com o calafrio que me percorreu o corpo inteiro. O vazio tornara-se água e suas garras já me mostrava. Meu convidado correu o mais rápido que pôde e meu corpo para trás chegou. Gritos, lamúrias, risadas foram crescendo e meus olhos finalmente puderam ver todos os temores.

Com força puxavam suas linhas, rindo vitoriosas de seus grandes feitos. Os olhos brilhavam de forma grandiosa e suas vozes sussurravam suas canções de glórias. Viam aqueles olhos brilhar em desespero sem reações do que crescia diante delas. A caixa estava mais uma vez aberta e logo suas linhas se romperiam. Não só uma vida teriam, e mais uma vez agradeciam:

– Obrigada Pandora que agora jaz morta!

Em minha busca por respostas não medi esforços de onde poderia chegar. Crescia diante dos meus olhos aquele que deveria trancado ficar. Não havia esperança naquela caixa que por tanto tempo se manteve lacrada, dois lacres ela possuía e decerto descobri como rompê-los. Meu corpo não se movia e meus olhos abriam em desespero. Não por minha vida temia, mas pela vida de um mundo inteiro. Lancei mão do medo que me assolava, correndo em direção daquilo que temia.

Não! Não! Elas gritaram. As linhas rompidas elas observaram. Sangue fluía junto com uma vida, onde um ato de desespero lançara um corpo inteiro. Um sorriso felino agora as observava e com calma deitou sobre o corpo da amada. Uma vez mais elas lamuriavam, pois o que traria as almas de um mundo inteiro jazia em local mais protegido. Não mais poderiam usar a curiosidade alheia e suas linhas para outro local levaram.

Meu corpo inteiro estava molhado, quando meus olhos abriram um tanto quanto embaçados. O convidado repousava ao meu peito, olhando-me com um olhar matreiro. Fechei meus olhos mais uma vez, com a cabeça doendo por tantos pensamentos. Sabia que estava a pensar de forma errada, pois agora em meus olhos a predestinação repousava. Sentindo o arrepio em meu corpo inteiro, sabia o momento que teria meu fim derradeiro. A humanidade estava a salvo por mais um tempo…

– Mas até quando, Pandora, teremos tempo?